Mirage FM, primeiro disco com música inteiramente criada por Inteligência Artificial, é lançado por produtor inglês e elogiado pela crítica

Enquanto eclodiam, dias atrás, polêmicas sobre Kanye West, Drake com Weeknd, e Oasis emulados por inteligência artificial (IA), o músico, designer, produtor, provocador, palestrante de mídia visual no London College of Communication, Damien Roach, ou Patten, lançava o primeiro álbum inteiramente formado por composições criadas por IA, Mirage FM, o título.
Patten, conhecido em Londres pelas performances imersivas high-tech, usou o software Riffusion (que pode ser baixado gratuitamente na web), e o explorou durante o inverno, quando estava de férias. Passou os gélidos dias invernais londrinos armazenando músicas criadas por IA, num processo text to áudio. O Riffusion transformava em música os textos com que era alimentado.
Patten acumulou horas de música. Em seguida fez uma seleção, e reprocessou esse conteúdo, que resultou nas 21 faixas de Mirage FM, que emprega a Inteligência Artificial não para copiar um artista renomado da música, ou seja, como um mero cover tecnológico. Patten conceitua a criação da IA,  a transforma, e a adapta à sua própria inteligência, numa instigante parceria de um ser humano com, digamos, um androide.
O que se escuta é um repertório eclético, com algo de música concreta, sonoridades de vanguarda, emulações de sons urbanos: rap, pop, techno, ambient, fragmentos oníricos e, em sua maioria, agradáveis.
DISCUSSÃO
Num longo artigo sobre IA e música, no The Guardian, Ben Beaumont-Thomas, o autor, lembra que a primeira composição criada por  IA remonta a 1950, quando o compositor e programador Lejaren Hiller conseguiu com que o computador da Universidade de Illinois compusesse uma música a partir de informações com que foi alimentado. Mas não passou de uma experiência isolada. Há muito tempo se discutia a possibilidade da IA criar arte a partir de milhões de informações armazenadas em sua data-base. E não apenas música, mas arte em geral.
A discussão passou a debate acalorado quando, dias atrás, um certo Ghostwriter disponibilizou na Spotify e plataformas afins o single Heart of My Sleeve,  supostamente uma canção dos astros canadenses Drake e Weeknd. Somente depois de centenas de milhares de plays foi que se deu conta que a música era fake. Drake fez postagens nas mídias sociais repudiando o episódio, que suscitou discussões sobre como ficam os direitos autorais nesses casos. É difícil se saber. A IA pode criar uma composição utilizando elementos de uma canção dos anos 20, com outra década de 40, acrescentando sons contemporâneos, tornando-se quase impossível detectar a origem desses elementos. Talvez só com a IA se consiga fazê-lo.
Beaumont-Thomas ressalta que a IA cria música a partir  de milhões de composições acumuladas em sua memória, e que, no fundo,  a prática não difere do que acontece com um ser humano, que compõe a partir de músicas que foi arquivando na memória ao longo da vida, tanto que é comum o plágio inconsciente.  O mais clássico e conhecido desse tipo de plágio aconteceu em 1970, quando George Harrison usou a melodia de He’s Só Fine (hit das Chiffons em 1963) em My Sweet Lord, o maior sucesso de sua carreira solo.
A crítica mais comum à música criada por IA é sua superficialidade, lhe faltariam sentimento, expressividade. No entanto, os software que permitem a máquina fazer música é recente. Tem falhas, e devem ser aperfeiçoados. Ben Beaumont-Thomas comenta este detalhe e lança a provocação:
 “O que temo é: conseguirá a IA acabar desempenhando um trabalho melhor do que o artista que ela está imitando?”. 

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