Núbia Lafayette e o Conde do Brega, a involução da música cafona

Ouço muito música brega, tosca, mal produzida, mal interpretada, a todo volume. Não em casa. De tosco pra mim já basta o mundo. O brega que ouço é tocado, o tempo todo, numa favela próxima ao meu prédio. Tocam uns bregueços curiosos. Uma cantora, que não sei quem é, canta um piseiro, sofrência, sertanejo, um troço desses, cuja primeira parte é igualzinha à melodia, complexa, de Fotografia, de Tom Jobim. E o povão gostando. Vá entender.

Aí entra o Conde, com “Se eu quiser fumar, eu fumo/se eu quiser beber, eu bebo” não sei como se chama a música, acho que Não tô Nem Aí. Os versos me levam à Núbia Lafayette, a potiguar Idenilde de Araújo Alves da Costa (1937/2007). Se cantasse MPB, Núbia Lafayette seria incluída entre as grandes vozes do país, mas seguia a linha que, no início dos anos 60, era rotulada de cafona. Seu principal fornecedor era o genial português Adelino Moreira, autor de inúmeros sucessos de Nelson Gonçalves e Ângela Maria. Tocou muito no rádio, vendeu muito LP, até a eclosão do rolo compressor chamado jovem guarda.

Voltou às paradas quando o “cafona” foi substituído por “brega”, termo que vem de xumbregar, que no Nordeste era falado “xambregar”, que deu em xamegar. Xambrega, foi abreviado pra brega, que virou sinônimo de cabaré, zona. A música que tocava no brega acabou denominada de “brega”. Origem provavelmente pernambucana (talvez alagoana ou paraibana, onde a expressão era comum).

Núbia Lafayette recuperou o sucesso, em 1972, contratada pela CBS, em que Raul Seixas era produtor, e Rossini Pinto um faz tudo, de executivo, produtor, a fornecedor de canções. De Raulzito gravou Jamais Estive Tão Segura de Mim Mesma, de Rossini Pinto, o bolero Casa e Comida, grande hit, e que deu nome ao álbum. Desse LP é Lama (Aylce Chaves/Paulo Marques), outra que foi às paradas, e virou clássico do gênero, e que abre com os versos: “Se quiser fumar, eu fumo/se quiser beber, eu bebo/não interessa a ninguém”.

A diferença entre o samba canção Lama e a o brega do Conde é não apenas na bela melodia da primeira, como na roupagem de ambas. A do Conde é tosca, tanto, que parece até proposital, para causar. Lama, tem a voz personalíssima de Núbia, e um arranjo requintado, de conjunto regional com orquestra, acho que do maestro Astor, que trabalhou durante anos na CBS.

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