Ainda não encontrei, cá em Boa Viagem, o local em que está o mural de Francisco Brennand, com versos de César Leal e Ariano Suassuna, que retrata a batalha dos Guararapes (na foto de Melissa Fernandes, reproduzida da Folha PE). Durante anos o mural esteve no Beco do Mijo, numa parede, acho que de um banco, quase na esquina com a Dantas Barreto. Como se deixa uma obra de arte daquelas num beco fétido e sem iluminação não tem desculpa, nem explicação.Aliás, tem. “Isto aqui ioiô/é um pouquinho de Brasil iaiá”.
Se ele fosse destruído não seria o primeiro. A maneira como sumiria é que seria original. Outros murais foram destruído no Recife, nenhum a mijo. Em 1960, o pintor Lula Cardoso Ayres botou a boca no trombone, denunciando a destruição de um painel do mesmo Francisco Brennand que havia no Hotel São Domingos, que funcionava na Praça Maciel Pinheiro, na Boa Vista.
Lula Cardoso Ayres lembrou que o ato de vandalismo não era incomum na capital da terra dos altos coqueiros. Citou painéis de Di Cavalcanti no Teatro do Derby, coberto com uma mão de cal, e um dele próprio, que ficava na Estação Rodoviária. Acrescentou mais outra barbaridade: o apagamento de um mural de Cícero Dias no prédio da Secretaria da Fazenda. Lula ignorava o crime hediondo, e levou um crítico paulista de arte, Geraldo Ferraz, para conhecer a pintura de tendência abstracionista, de Cícero Dias (àquela época, já artista renomado em Paris, colega de copo de Picasso).
Quando chegaram ao antigo restaurante da Secretaria da Fazenda, depararam-se com as paredes inteiramente pintadas de azul. Segundo foi explicado por um funcionário, a pintura foi para espantar as moscas, porque as cores fortes do painel atraiam os insetos. O crítico vendo aquilo, voltou-se para Lula Cardoso Ayres e comentou: “Realmente, o Cícero estava completamente abstrato”.
TelesToques 
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