O Ave Sangria festeja os 50 anos, nesse sábado, 20 de maio, com uma ruma de convidados, no Teatro do Parque, às 21h. Mas antes de falar do show, e da banda, deixa eu contar uma historinha, já contada várias vezes. Ei-la:
O ano, acho que 1989, ou 90. Fiz uma visita a Paulo Rafael, no apê em eu morava com a família, no Jardim Botânico. Ele me chamou pro quarto onde trabalhava, com um computador Mcintosh, pra me mostrar umas músicas, ou programações, não me lembro mais. Enquanto a gente conversava, vi um cassete em cima de umas caixas de tapes scotch, Apanhei a fita. Tinha uma capinha artesanal, uma foto do Ava Sangria, e a moça misteriosa que aparece, sempre de costas, em várias outras fotos do grupo. Era a gravação de um dos dois shows Perfumes y Baratchos que a banda apresentou no Teatro de Santa Isabel na última semana de dezembro de 1974. Quando fui embora pedi a fita emprestada a Paulinho pra copiar. Ele me disse um “leva”, no qual parecia estar subtendido “faça bom proveito”. Aqueles concertos aconteceram há mais de 15 anos, ela já estava noutra, guitarrista e produtor reconhecido. Na época estava com 19 anos.
Nem ele, nem eu, e acho que quase ninguém imaginaria que o Ave Sangria, feito Fênix, ressurgiria das cinzas 40 anos depois daqueles dois shows, e faria mais sucesso do que nos poucos anos em que atuou nos anos 70, de 1972 a 1974.
O cassete tem uma história meio mirabolante. Passei anos com a fita, quando ia ao Rio nunca me lembrava de levá-lo comigo pra devolver a Paulinho. Falava-se tão pouco no Ave Sangria, que comentei com poucas pessoas que a gravação do show estava comigo. Quando surgiu o gravador de CD, um amigo comprou um e ganhava uma graninha passando cassete para CD. Pedi para ele fazer isto com a fita do Ave Sangria. Entreguei o cassete, sem nem me tocar que poderia perder aquela relíquia.
O cara, simplesmente, sumiu.

Alguns anos mais tarde. Ai por volta de 2004, saio de casa (um apê, onde morava há três anos), e quem encontro numa mesa de cimento, do bar da esquina (àquela hora fechado) O cara a quem entreguei o cassete. Perguntei pela fita. Ele disse que estava bem guardada, pedi de volta. Foi na redação do JC, na Rua do Imperador, e me devolveu. Dez anos depois. O Ave Sangria vira notícia. O LP de 1974, que caiu nas garras da censura, seria relançado por uma pequena produtora local. A banda anunciava uma volta. Almir me pediu a fita. Passei pra ele.
A produtora conseguiu dar um grau no som captado numa mesa quatro década atrás, e lançou o registro do show como um álbum duplo Perfume y Batachos, uma edição primorosa, com o desenho original feito por Lailson para o disco de estreia, esnobado pela arte da gravadora Continental, substituído por uma ave papagaio trans, pintado por um pintor ruim.
Quando é agora, mais dez depois, o Ave Sangria faz festa para celebrar os 50 anos de atribulada existência. Quatro integrantes da formação original faleceram. Marco Polo e Almir de Oliveira, os compositores e vocalistas do grupo, recrutaram músicos mais jovens tarimbados e em sintonia com o Ave Sangria: Junior do Jarro, Gilú Amaral, e Juliano Holanda, e Breno Lira. Deu liga, a banda está na estrada desde então, fazendo amigos e influenciando pessoas.
SHOW
No histórico show desse sábado recebem convidados especiais, Cannibal (Devotos), Clayton Barros (Cordel do Fogo Encantado), Guilherme Teles (violonista que prestará homenagens a Paulo Rafael e a Ivinho), Bruna Alimonda, Agda, Flaira Ferro, Tagore, e Geraldo Maia.
Mais informações : https://www.sympla.com.br/evento/ave-sangria-no-teatro-do-parque-comemoracao-50-anos/1938243 .
(ilustração de Laílson)
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