Simone celebra 50 anos de carreira ainda correndo por fora da raia, e cantando de Sueli Costa a Roberto e Erasmo Carlos

Em março de 2023, o LP de estreia de Simone completou 50 anos. Ela celebra a efeméride com a turnê Tô Voltando, em que faz uma retrospectiva da carreira, que tem o álbum como marco inicial. Simone aterrissa com este show nessa sexta-feira, 26 de maio, às 21h, no Teatro Guararapes, com uma banda formada por Frederico Heliodoro (baixo), Filipe Coimbra (guitarra e violão), Chico Lira (teclados), Ronaldo Silva (bateria) e Vanderlei Silva (percussão). A direção musical é de Pupillo, e direção geral de Marcus Preto.
Quando, no final dos anos 80, Simone gravou canções da parceria, rotulada de brega, José Augusto e Paulo Sérgio Valle, choveram críticas ao que se considerava concessão ao popularesco. Até com alguma razão, porque se voltar para autores como Sullivan e Massadas se tornou uma tendência que alcançou também Gal Costa ou Fagner.
Mas já no primeiro álbum, Simone buscava o popular. Quatro faixas são assinadas por Dalto, uma por Paulo Diniz, e outra por Renato Barros (do Blue Caps). Deste, ídolo do iê-iê-iê, Maior Que O Meu Amor, lançada por Roberto Carlos em 1970. Ela voltaria a Roberto Carlos no álbum de 1975 (Proposta, de Roberto e Erasmo), e em Cigarra, LP que a tornou a campeã de vendagens 1978 (As Curvas da Estrada de Santos, do Rei e do Tremendão), regravaria Carlos & Carlos ao longo da carreira.
Simone conciliou qualidade e popularidade.
Tanta popularidade que, em 1978, ano do disco Cigarra, provocou comoção ao participar do Projeto Pixinguinha, com Sueli Costa. A cantora mais badalada do país, apresentando-se com ingressos a 15 cruzeiros (mais ou menos 15 reais. Na época, as entradas para um show de Caetano, ou Gal custavam,  em média 150 cruzeiros). No Recife formaram-se longas filas, de manhãzinha,  para garantir a entrada pro show, que aconteceria no Teatro do Parque, na Rua do Hospício, que fez jus ao nome.

 Foram colocados mil ingressos à venda. Estima-se que mais mil pessoas, pelo menos, vieram até lá para tentar comprar entradas. Cambistas faturaram alto. Nos dias seguintes, artigos em jornais exigiam uma grande casa de espetáculos no Recife, o que somente aconteceu em 1982, quando foi inaugurado o Teatro Guararapes, o segundo maior do país.
Foi o auge de Simone na atribulada década de 70 fechada com o álbum Pedaços, Dos melhores da baiana, e com um dos hinos da Anistia, Tô Voltando (Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós), também usada na campanha de Miguel Arraes na eleição para governador em 1982. Nos anos 90 a carreira de Simone é irregular, a música brasileira passou a ser dominada por uma monocultura oportunista e predatória axé, padode, sertanejo, oxente music etc.

A cantora que, em 1980, trouxe de volta aos palcos a maldita Caminhando (Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores), de Geraldo Vandré, em 1995 dedicou um álbum inteiro às canções natalinas, cristãs.  Um dos discos mais vendidos da década. Passou da barreira do milhão de cópias. Deu a cantora um Disco de Diamante. A versão de Merry Xmas (The War Is Over), de John Lennon e Yoko Ono (de 1969) toca tanto desde então que, na era da Internet, virou meme.
Simone gravou um discaço em 1996, Café com Leite, tributo a Martinho da Vila. Só voltaria ao disco em 2004, com o elogiado Baiana da Gema, mais um tributo, agora a Ivan Lins, um belo álbum que a reafirmou como uma das maiores da história da MPB. Talvez por nunca ter sido de panelinhas, baiana que não corteja conterrâneos, autônoma, que corre por fora da raia, Simone não seja alvo de salamaleques, box, nem inclusão em listas de maiores cantoras brasileiras de todos os tempos. É uma das, com um repertório à altura do seu talento. Asserção que pode ser confirmada por quem for assisti-la no Teatro Guararapes.

Um comentário em “Simone celebra 50 anos de carreira ainda correndo por fora da raia, e cantando de Sueli Costa a Roberto e Erasmo Carlos

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  1. Simone foi um fenômeno popular cantando MPB,era a única daquela série ”Grandes Nomes” que o pessoal da minha cidade assistia,eu ficava sem entender,eu adorava,mas adorava as outras e os outros também.

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