Contam que um cara foi para o Chile e surpreendeu-se ao descobrir que o chilenos escutava bastante tango. Chegou numa loja de discos (esta história é antiga), e perguntou ao balconista o motivo de os compatriotas dele apreciarem tanto a música dos argentinos, apesar da rivalidade entre os dois países.O balconista esclareceu: “É porque no tanto tem sempre um argentino se fodendo”.
Embora inclua entre os melhores concertos que vi um de Astor Piazzolla, no Teatro Guararapes, sei muito pouco de tango, Escutei o óbvio, o citado Piazzolla e o álbum Libertango, um dos primeiros que comprei com dinheiro de salário, os tangos que escutava no rádio quando criança, numa época em música em espanhol tocava no Brasil quase tanto que em português.
E havia os tangos brasileiros. Adelino Moreira fez vários, muito bons para Nelson Gonçalves. Todos de letras de supersofrência, mas grande arranjos e melodias. Mas os personagens dos tangos não ficavam só no mimimi, quer partir pra ignorância, feito João Dias, em Porteiro Suba e Diga (Portero Suba Y Diga Porteiro Suba E Diga (Luis Cesar Almadori/Eduardo de Labar, versão de Ghiaroni).
A história de um cara cuja mulher se encontra num cabaré em altas farras. Ele pede que o porteiro suba e diga àquela ingrata que ela está a espera, até o cabaré fechar: “E diga a esses trouxas/que bebem e comem/que aqui tem um homem/disposto ao que for/ mas diga pra ela/que a espero tremendo/sofrendo e gemendo, morrendo de amor”. Queria ter visto, Piazzolla, no Geraldão, em 1976, o ginásio quase vazio. Salvo engano, Marcelo Melo, pediu que o pessoal deixasse os assentos marcados e viessem para a quadra, onde desfrutaram de um show intimista do gênio da MPB argentina.
Vez por outra ouço o álbum de tangos brasileiros, sobretudo de Nelson Gonçalves e Angela Maria. Raramente de argentinos, porque cantam como se estivessem à beira de um tresloucado gesto. Demorou mais cheguei a Haroldo José, e seu Tango Triste, o que é meio redundante. Pra mim todo tango é triste. Se bem que tem uns de indignação. O cantor e compositor Haroldo José, carregava o epíteto de O Guarda Cantor. Seu álbum de 60 anos atrás.
Naturalmente não está em nenhuma matéria celebrando a data redonda. Confesso que nem sei onde Haroldo José está, se ainda vive, ou continua nos palcos. São coisas assim que tiram a arrogância de pessoas que acham que sabem de tudo, nada está fora do seu alcance cognitivo. Quando descobri Tango Triste, já conhecia a música, mas não com O Guarda Cantor. O álbum, que eu ignorava totalmente sua existência me levou ao “Só eu sei que nada sei”, de Sócrates que, por sinal, é um bom título pra um tango. Então, eis que cá tô, final de segunda, escutando o tango de O Guarda que Canta.
(O “gênio da MPB argentina” no título, foi intencional, claro, e é um alusão a uma nota publicada numa coluna de um jornal recifense quando Astor Piazzolla faleceu em 4 de julho de 1992)
Se o disco for igual a capa, é impagável. Ouvirei, meu mestre.
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o melhor do disco é a capa, o guarda cantor
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Não espalha, mas sempre choro quando ouço Adiós Nonino…
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tudo bem, tango é pra isto mesmo. Agora este guarda cantor, não sei nao
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