“Brigitte Bardot descerá no Recife, antes de prosseguir a viagem para o Rio”. Quando o colunista Ricardo Amaral soltou a nota, no Última Hora carioca, no domingo 6 de janeiro de 1964, a notícia se espalhou pela capital pernambucana (que rodava uma edição local do jornal). Na época os aviões que vinham da Europa faziam obrigatoriamente uma escala no Recife para reabastecer.
Portanto, era comum que celebridades internacionais descessem das aeronaves, esticassem as pernas, dando umas voltinhas pelo aeroporto dos Guararapes. A italiana Gina Lollobrigida, por exemplo, fez isso. Lolo também era famosa e lindíssima. Porém não mais do que Brigitte Bardot, que se tornara a mais badalada estrela do cinema mundial, a primeira com apelo que ia além da telas.
Ela quebrava tabus sexuais, transgredia regras de comportamento. BB era pop, e gravava discos por sinal. A Bardot mania aconteceu antes da beatlemania. Quem diria? A atriz do polêmico E Deus Criou a Mulher, de Roger Vadim, com quem foi casada, sucesso nas telas do mundo inteiro em 1957, pisaria em chão pernambucano. E no dia seguinte.
Sim, a notícia do Última Hora afirmava que o avião que trazia Brigitte Bardot, com o namorado brasileiro-franco-marroquino, Bob Zagury, aterrissaria no Recife à meia-noite da segunda. Muita gente, apesar da hora, foi ao aeroporto para ver a estrela em carne e osso, rádios, jornais e TVs mandaram suas equipes. BB chegou a Pernambuco pelas asas da Panair, cuja aeronave pousou na pista dos Guararapes a 1h10 da madrugada da terça.
O buruçu foi formado. Destacou-se uma patrulha de choque da Polícia da Aeronáutica para proteger a integridade física de Brigitte. A imprensa não teve o mesmo privilegio, e um cinegrafista da TV Rádio Clube, o Canal 6, levou um bofetão na cara, desferido por um relações públicas da Panair do Brasil. Cerca de trezentas pessoas amontoavam-se no saguão Á espera de Brigitte.
La Bardot, no entanto, não estava a fim de descer. Permissão para entrar no avião só para o cônsul da França em Pernambuco, a quem BB ignorou solenemente, fingindo que dormia. Não se sabe bem como, mas o Última Hora recifense deu uma descrição minuciosa de como estava a atriz no interior do avião. Da roupa que vestia, às pessoas que a acompanhavam (além do namorado, uma secretária particular e uma cabeleireira).
A camisa de mangas compridas que vestia, tinha os dois primeiros botões desabotoados, e a saia deixava à mostra três quartos das belas pernas. Os louvados cabelos longos e louros estavam cobertos por uma peruca escura. BB encontrava-se muito cansada, e queria continuar dormindo. Mas não conseguiu dormir. Lá de dentro do avião dava pra sentir a confusão.
Em dado momento, Brigitte se levantou, olhou pela janela e finalmente falou: “Esta gente nunca viu mulher, não?!!!” Igual a ela, não. E nem a veria.
Os fãs inquietavam-se. As tropas da Aeronáutica cuidavam para que não invadissem a pista. 80 minutos depois de aterrissar, o avião da Panair começou a se movimentar para prosseguir viagem com destino ao Rio. Quando levantou voo, Brigitte Bardot, a mais badalada e cobiçada mulher do mundo, foi sonoramente vaiada (com alguns xingamentos) no aeroporto dos Guararapes.
Nota – A crônica foi publicada em 2014, no meu antigo blog no Jornal do Commercio. É republicada agora, para celebrar o aniversário de Brigitte Bardot que, neste 28 de setembro de 2021, inteira 87 primaveras.
Fofoca de categoria!
Sabe Zé Teles
Tom Zé
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foi verdade. Ela não desceu do avião. As atrizes e atores desciam. iam até o saguao do aeroporto. Gina Lollobrigida desceu, conversou com os fãs.
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