Jarbas Mariz está há 30 anos e alguns meses na banda de Tom Zé. Não dá pra se imaginar o grupo sem sua presença. Mas de vez em quando ele lança disco solo, tão bons que nos faz querer lhe perguntar por que não investe numa carreira solo paralela mais perene. Jarbas toca, compõe e canta muito bem. Nascido em Aimoré (Minas Gerais), ele cresceu na Paraíba, onde começou na música, atuante desde a época jovem guarda ate os primeiros shows solo de Zé Ramalho. Viveu uma fase muito rica da música paraibana.
Mais tarde tocaria na banda de Cátia de França, com quem foi pela primeira vez ao Rio no início dos anos 80. Fez Projeto Pixinguinha com Cátia e Jackson do Pandeiro, em cujo grupo passou a tocar. Foi como se fizesse um estágio, com os grandes da música nordestina. Vieram Marinês e depois Paulo Diniz. No final dos anos 80, O americano David Byrne em visita ao Rio descobriria, por acaso, o LP Estudando o Samba (1976), de Tom Zé, que mudaria as rotas da carreiras do baiano de Irará, e a do paraibano nascido, por acaso, na Alterosas. Com a repentina badalação feita por David Byrne, o Brasil, depois o mundo, descobriria a música de Tom Zé. Muito requisitado, Tom precisou montar uma banda. Convidou Jarbas Mariz para ser um dos integrantes, e ele a integra desde 1991.
Um dos nomes incensados pelos paraibanos, no rol dos músicas de nome nacional do estado, Jarbas Mariz tem um pé no udigrudi pernambucano dos anos 70. Participou, no berimbau, das sessões do álbum Paêbiru (975), e toca viola em Rosa de Sangue (1980), de Zé Ramalho. Em 1988, foi parceiro de Lula Côrtes no álbum Bom Shankar Bolenajh, um encontro da música nordestina com a oriental.
Dias atrás, Jarbas Mariz lançou um disco solo, que tem seu nome por título, e uma horda de amigos como participantes. No repertório, três regravações de canções de autores que fazem parte da sua trajetória. Reduzido a Pó, é uma parceria com Lula Côrtes e Cal Venturini, do álbum Lula Côrtes & Má Companhia (1997), Augusta, Angélica, Consolação de Tom Zé (do álbum Todos os Olhos, 1973), e Não Tenho Imaginação Pra Trocar de Mulher, de Marconi Notaro (do álbum No Sub-Reino dos Metazoários, 1973). Nesta última ele declama, sem acompanhamento, os versos de Notaro (1949/2000), que praticou mais poesia do que a música.
O ubíquo Chico César participa do xote Lua Mulher, um das muitas faixas do disco que teria o destino do sucesso se tocasse no rádio, ou nesses programas de TV recheados de sertanejos da vez. O leque realmente foi aberto, e vai até mais longe, alcança os tempos em que Jarbas sentou praça na jovem guarda paraibana, de 1967 a 69, tocando em Os Selenitas. Se empregasse baixo, guitarras e bateria, a faixa Entre o Sim e o Não poderia embalar a turma do iê-iê-iê nos assustados da capital paraibana. Da leveza do iê-iê-iê para o rock pesado, com riff de heavy metal clássico em Da Minha Janela, com letra que canta o atual estado das coisas, de gente morando na rua, “O que é que faz um país crescer/o que é que faz uma cidade sofrer? Famílias nas ruas, na contramão”. O leque continua estendendo-se à medida que avançam as faixas.
Chega até o rap, em O Xote do Buraco, com participação de Crônica Mendes, um mano das quebradas do Capão Redondo, letra que emprega versos de uma modalidade da cantoria de viola: “Ele é um rapper daqui de São Paulo, que eu queria introduzir na embolada, que é parecida com o rap”, explica Mariz. Não poderia faltar samba. A Vida É Assim tem o reforço de Bocato e seu trombone, e do Bloco Aguardente. Outra que seria bem aceita no carnaval. Um álbum que desce redondo, como dizia um slogan de uma marca de cerveja, e termina com Viagem Arretada, um xote no estilo que forrozeiros feito Maciel Melo. moldaram lá nos anos 90. A canção é uma balançada reflexão sobre o tempo.
Como faixa bônus, Esvaziando o Pensamento, texto que Jarbas Mariz escreveu para Crônica Mendes dar roupagem de rapa, o que fez, com participação de Mariz na gravação. Os dois mandam ver um rap maneiro (infelizmente a faixa não está na versão do álbum no Spotfy.
Jarbas fez, também, um trabalho em homenagem a Jackson do Pandeiro, maravilhoso.
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conheço. Ele tocou um tempo com Jackson
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Obrigado pelas palavras. Gostei bastante da forma como vc conduziu a matéria.
Meu abraço e minha gratidão.
Jarbas Mariz
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obrigado também jarbas, tô tentando alagar os espaços para a a música, os espaços continuam fartos para fofocas de artistas, mas não para música
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