O pianista e compositor carioca Antonio Adolfo, autor de sucessos como Sá Marina (1968), hoje mais celebrado no exterior, do que no Brasil, tornou-se parceiro de Renato Teixeira por feliz equívoco. A parceria intitulada Eu Só Quero Ser Feliz está no álbum Naturezas (Kuarup), que Renato Teixeira gravou com Fagner, o responsável pelo equívoco, que entra para os “causos” da MPB. Quando montavam o repertório de
Renato Teixeira + Fagner – Naturezas (Kuarup), Raimundo Fagner mandou o que imaginava ser uma melodia sua para Teixeira colocar letra, que se surpreendeu. Não sabia que o cearense tocasse piano, e muito bem. Porém a melodia não era de Fagner, nem o piano. Ambos são de Antonio Adolfo, e já recebera letra. Por coincidência de Fausto Nilo, conterrâneo e parceiro de Fagner. Por sinal uma parceria deflagrada há 50 anos, com Fim do Mundo, lançada por Marília Medalha. Eu Só Quero Ser Feliz foi creditada a todos envolvidos nela, inclusive Fausto Nilo.
O álbum tem sonoridade eletroacústica, e é mais introspectivo do que se poderia esperar pela presença de Fagner, cujo estilo é arrebatador, de soltar a voz potente e de timbre originalíssimo. Fagner acompanha o cantar comedido de Renato Teixeira. O disco tem duas regravações simbólicas, músicas que marcaram a carreira de ambos, Tocando em Frente, de Renato Teixeira e Almir Sater (que canta com Fagner e Renato nesta faixa), e Mucuripe, de Fagner e Belchior. os dois são acompanhados por uma banda formada por Com uma banda básica formada por Cainã Cavalcante (guitarra/violão), Natan Marques (piano), João Cristal (baixo), Wilson Levy (bateria) e Maurício Novaes (arranjos, violão/piano), mais participações especiais, como a de
Um álbum de canções tranquilas e otimistas, que cai bem em tempos tão burlentos. “Pronto pra ser feliz/como um pássaro aprendiz”, versos de Para o Nosso Amor Amém, que conta também com a voz de Almir Sater. A parceria casual com Antonio Adolfo começa com “Eu só quero ser feliz/e por isto estou aqui/na lida da vida eu vou com fé/pra ver como é que é”.
São bonitas as canções, uma delas, Rastros da Paixão, dedicada ao compositor cearense Evaldo Gouveia (1928/2020), fornecedor de muitos sucessos para Nelson Gonçalves, Anísio Silva, Altemar Dutra, entre muitos outros. Evaldo era afilhado dos pais de Fagner, seu vizinho em Fortaleza. Um bolero lento, com letra que incursiona pelo estilo de Evaldo Gouveia. O repertório é fechado com uma homenagem ao Ceará (título da música), letra composta por Renato Teixeira num avião (viajava para Anguilla, território inglês no Caribe), e o mar lhe pareceu com o do estado natal de Fagner, que acrescenta uma homenagem ao parceiro Belchior.
Eu Comigo Mesmo é a faixa que diz muito do disco, que aponta para a possibilidade da felicidade, e a certeza da amizade. E os laços de Renato Teixeira com a Kuarup vão além dos discos que ele lançou com selo da gravadora. A empresa tem seu escritório e estúdio numa casa em que Renato morou com a família em São Paulo nos anos 70. Já havia um pequeno estúdio nessa casa, e foi ali que escutou, em 1973, a fita com as músicas de Manera, Fru Fru, Manera, álbum de estreia de Fagner. Foi igualmente nessa casa que Renato Teixeira compôs Romaria.
Por fim, mas não menos importante, o desenho da capa de Naturezas é assinado por Elifas Andreato (1946/2022), o último que fez para um disco.
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