De tanto ver e escutar sobre o rei Charles, acaba-se chegando a Ray Charles (felizmente, o trocadilho infame só na língua portuguesa), enquanto as exéquias da rainha Elizabeth II coincidem com o lançamento da caixa Ray Charles: The Complete ABC Recordings 1959-1961, período em que o cantor alcançou um público mais amplo, emplacando alguns sucessos nas paradas de vários países.
Em 1959, Ray Charles (1930/2004) trocou a gravadora Atlantic pela ABC Paramount, depois de ter estabelecido as bases da soul music na década de 50. A caixa reúne os quatro primeiros discos na Paramount: Genius Hits the Road (1960), Dedicated to You, Genius + Soul = Jazz and Ray Charles and Betty Carter (all 1961). Grandes discos, e comercialmente bem sucedidos, como aconteceu com Genius Hits the Road, álbum conceitual, com nomes de estados e cidades, que cravou um clássico do American songbook, Georgia On My Mind (Carmichael/Gorrel). Georgia, pois, não se trata de uma moça, mas do estado do Sul dos EUA onde nasceu Ray Charles (em Albany).
No entanto, o álbum mais importante dele nessa gravadora foi Modern Sounds in Country and Western Music, de 1962 do hit I Can’t Stop Loving You (Don Gibson), um disco em que um negro canta country and western, gênero predominantemente feito por e para brancos (parte do repertório foi lançado no Brasil na época pela Rozenblit). Um dos álbuns mais importantes da música popular do século 20. Por que não foi incluído na caixa? Questões de direitos autorais.
Ray Charles: The Complete ABC Recordings 1959-1961 chega às plataformas de música para stream com selo da Le Chant du Monde gravadora fundada em 1938, uma das mais importantes da França (foi comprada pela inglesa Wise Music Group, fundada em 1811, como editora musical). E agora os direitos autorais. Nos EUA a obra musical torna-se de domínio público 70 anos depois da morte do autor (ou autores). Na Europa este período é de 50 anos da obra lançada, desde que realizada antes de 1978, quando a lei do copyright foi modificada também para 70 anos depois do falecimento dos autores.
Assim é que quatro primeiros discos da Paramount podem ser lançado na Europa sem pagamentos de royalties. Mas Modern Sounds in Country and Western Music ainda não está em domínio público, porque teve mais deum relançamento depois da ultima mudança nas leis de copyright europeias. Aliás, desde 2012, que grandes nomes da música popular, a exemplo de Bob Dylan, tem sobras de estúdio e registros de shows lançados em formato digital, a fim de impedir que caíssem em domínio público.
DISCOS
Leis à parte, estes álbuns são todos biscoitos finos. Quem aprecia Ray Charles já deve possuir. A voz do cara é impecável, e valoriza até as canções mais fracas. Os arranjos são de Quincy Jones e Marty Paich. Foi dada uma guaribada no som, e a caixa ainda traz um acepipe extra: o álbum de singles (ou compactos, como então se dizia no Brasil), com músicas conhecidas, e muitas só lançadas nos disquinhos. God Save the King of Soul, o Ray Charles.
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