Maciel Melo, um dos mais importantes compositores nordestinos, denuncia discriminação ao forró raiz nos palcos principais do São João

O sertanejo Maciel Melo, nascido em Iguaraci, na região do Pajeú, crescido em Petrolina, às margens do São Francisco, segundo Fagner, é um divisor de águas na história do forró, desde o sucesso de Caboclo Sonhador, um xote inovador, com três melodias bem encaixadas, um suíte xote, mais uma letra longa e confessional. Foi gravado por dezenas de intérpretes, incluindo o próprio Fagner. Um clássico não apenas do forró, como igualmente da MPB.

Maciel tem uma discografia extensa, a maioria de forró, mas com abertura pra um disco inteiramente de frevos, e alguns no estilo que se convencionou chamar de cantoria, surgido com a entrada de Elomar em cena no inicio dos anos 80. Embora não se prendesse ao sazonal disco junino, ele geralmente trabalhava novas composições neste período. Para 2023, lançou duas, Xote da Galega (com Cleuber Martins), e o baião Meu Sertão, Minha Seara.

Assim como a quase totalidade dos forrozeiros de sua geração, ele não se sente estimulado a gravar um álbum que será pouco tocado no mês de junho. Como ostenta vários sucessos no repertório de palco, Maciel Melo sabe que terá agenda recheada nos quase dois meses de festejos juninos Nordeste afora. É um dos nomes do forró pé-de-serra mais requisitados para animar arraiais juninos.

Nem por isto Maciel esquivou-se de botar a boca no trombone contra o predomínio, no São João, cada vez maior de sertanejos, piseiros, bandas de fuleiragem, axé, padres cantores, e afins. Suas críticas ao modelo veio acompanhado do bordão “Quero Meu São João de Volta”. Em conversa exclusiva com o telestoques.com Maciel comentou sobre sua música, e sobre o desprestígio do forró autêntico na que já foi a sua festa mais aguardada.

MÚSICAS

Fiz um bocado de coisa durante esta pandemia, compus bastante. Fiz músicas com Geraldo Azevedo, com Fagner, umas três com Renato Teixeira, uma com Bráulio Tavares, com João Sereno, um compositor muito bom da Bahia, Dominguinhos adorava ele, fizemos um samba muito leal. Continuo insistindo, a gente não deve desistir. Por exemplo, Flavio Leandro, abandonou os palcos, um grande compositor, estava no auge. Resolveu abandonar, porque só ele sabe. Mas reclamava muito da invasão de outros gêneros, outros estilos no nosso espaço.

Eu penso que o poder público, os prefeitos, esta rapaziada nova que está entrando na politica, quer gente na rua. João Gomes, Safadão, sertanejos, são eles que lotam os pátios. Pra eles quando mais gente no meio da rua, melhor. Em minha opinião, este povo que vem pra cá, não quer saber de cultura, de raiz. Me lembro de uma entrevista de Armandinho, contando que quando começou o axé eles ficaram fora do carnaval. No meio de uma reunião, disse que ele (com o Trio Dodô & Osmar) tinha feito história. Alguém retrucou: ‘A gente não vende história, vende abadá’. Estas coisas me entristecem, tem hora que cansa um pouco, de ficar insistindo e brigando por um espaço que já é nosso, mas tem que continuar, não pode desistir nunca.

Tenho muita música feita durante a pandemia mas não é forró, fiz com Renato Teixeira, homenagem a Recife a Tarcísio da Livro 7, ia fazendo ia gravando e ia colocando nas paginas. Tem um baião chamado Meu sertão, minha seara

FORRÓ SEM HOLOFOTE

Eu acho que fica complicado até pra falar sobre isso. Às vezes só eu falo, os outros artistas ficam meio quietos, mas é preocupante porque os grandes polos estão afastando as tradições no período junino. Estão colocando a gente pra outros espaços. Em Caruaru fizeram o São João Na Roça, pra gente tocar nos distritos, que é legal as pessoas que gostam de forró vão pra lá, ou pro Alto do Moura. Porém deveria ter forró no polo principal, porque todos os holofotes da grande mídia estão em cima do palco principal, o que vai pro mundo, o que vai ser divulgado e espalhado, é o que tá nos grandes polos. A não ser que tenha uma mídia alternativa que vá atrás das tradições.

Mas o foco da mídia está nesses polos maiores, que é exatamente onde o forró não está. Em minha opinião, botava-se um dia só pra esta coisa mais moderna, outro só com o forró tradicional. um dia sim, um dia não. Quem gosta do meu forró, de Dominguinhos, Luiz Gonzaga, de Petrúcio, de Santanna, iria pra este dia. No outro dia colocava o que a juventude tá querendo ouvir, a gente não pode fugir disto. Num dia piseiro, sertanejo, noutro, o forró tradicional, mas a gente não manda nisso

Estamos ficando cada vez mais em segundo plano, principalmente neste período nosso, que é o período junino. Entendo até porque outros artistas não querem falar, temem ser boicotados. Mas devemos cobrar o espaço da gente.

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