Wanderléa lança disco de choros interpretados como se ela não tivesse feito outra coisa na vida

Duas grandes cantoras que nunca aparecem nas tais listas de “Melhores” do Brasil: Rita Lee e Wanderléa. Na enxurrada de maiores encômios (merecidíssimos) dirigidos à Rita Lee semana que passou, não me lembro de alguém louvando sua voz. Ela dominava o canto, fazia o que queria com a voz, e sem fazer esforço, fluía naturalmente. Já Wanderléa, para citar um exemplo, não entrou em listas de discos que completaram 50 anos em 2022, Em 1972, ela lançou um dos melhores LPs do ano, e de sua carreira, Maravilhosa. O motivo? Ambas foram rotuladas de “roqueiras”. E rock até hoje, pra maioria dos compatriotas, é coisa menor, para adolescentes.

De Maravilhosa, Wanderléa regravou Uva de Caminhão, choro de Assis Valente, lançada por Carmem Miranda, em 1939. A música é faixa do álbum Wanderléa Canta Choros, que aterrissou nas plataformas de música por stream nessa sexta-feira, 12 de maio (terá também edição física). Um disco que dirime qualquer dúvida sobre as habilidade vocais da “Ternurinha” da Jovem Guarda. Ela pouco fica a dever a Ademilde Fonseca, a garrincha do choro, em O Que Vier Eu Traço, de Alvaiade e Zé Maria, lançada por Ademilde em 1945. Dando-se ao luxo de acelerar o que já estava acelerado, com dicção impecável.

Delicado abre o repertório, com uma da várias companhias de luxo do disco, o bandolinista Hamilton de Holanda. A composição é de Waldir Azevedo, e foi o baião mais tocado até hoje no exterior, embora esteja colocado na prateleira do chorinho (a letra é de Ary Vieira). Wanderléa encara outros trava-línguas do choro, como Brasileirinho, do mesmo autor (com letra de Pereira da Costa), com citação do Hino Nacional, ou Apanhei-te Cavaquinho, assinado Ernesto Nazaré, com Benedito Lacerda e Darci de Oliveira. E vai até Luiz Gonzaga, com Galo Garnizé, lançado há 80 anos (parceria de Gonzaga, com Miguel Lima e Antonio Almeida), em versão instrumental, e gravado com letra por Ademilde Fonseca, em 1951.

Zé Barbeiro (violão de 7 cordas) Milton Mori (bandolim), João Poleto e Alexandre Ribeiro (sopros), Douglas Alonso (percussão), Roberta Valente (pandeiro), a banda básica do disco, que remonta aos primeiros passos de Wanderléa na música, quando participava, ainda criança, de programas da Rádio Mayrink Veiga, nos anos 50.  Conviveu com Ademilde Fonseca, e chegou a ser acompanhada por um dos mais importantes regionais da história da MPB, o do cavaquinhista Canhoto.

Das doze faixas uma única é inédita, Um Chorinho Pra Wanderléa, de Douglas Afonso e Joao Poleto. A produção é de Mario Gil, e pesquisa de Roberta Valente. O disco foi lançado pelo Selo Sesc.

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