Tina Turner teve um relacionamento abusivo de 18 anos com Ike Turner, e virou superstar graças a participação num single da banda tecnopop Heaven 17

Ike Turner conheceu Tina Turner quando ela estava com 18 anos. Namorava o saxofonista de sua banda, que a engravidou. A mãe a expulsou de casa. Ela foi morar com Ike e a mulher dele, Lorraine, cuidava dos filhos do casal. Num livro sobre a cantora, Ike Turner revelou que não sentia atração por Tina, ou Little Ann, como era conhecida (seu nome de batismo era Anna Mae Bullock). Curioso, porque ele foi um mulherengo incorrigível e compulsivo (Tina Turner foi sua sexta esposa).

Ela não queria mulheres na sua banda mas, por insistência do baterista, que saía com a irmã de Tina, acabou deixando que ela cantasse pelo menos um número em seus shows, nos clubes de St Louis, onde moravam ambos. Ike Turner compôs uma canção intitulada Fool in Love, para ser gravada por Art Lassiter, ex-Ink Spots, grupo vocal de  sucesso, extinto em 1954. Ike, alugou um estúdio, levou a banda, e nada do cantor aparecer. Tina Turner sugeriu a ele que a deixasse gravar Fool in Love como voz guia. Ike acedeu. Apagaria a voz dela, para Lassiter cantar sobre as bases. No entanto, tocou o tape num clube da cidade. O dono do clube estava lá. Sugeriu que a canção fosse lançada com a voz de Tina. O compacto chegou às lojas, em 1960, creditado a Ike e Tina Turner.

Little Ann (Aninha) não dava). Ike pensou num nome artístico. Segundo contou, inspirou-se em Nioka, heroína, meio um Tarzan feminino, de uma série de aventura, que passava nos cinemas, Perils of Nioka (Os Perigos de Nioka). Surgiu assim o Tina Turner. Fools in Love deu dinheiro o suficiente para Ike Turner comprasse uma casa para Lorraine, sua mulher. Os dois arrebataram um Grammy no segundo disco, It’s Gonna Work Out Fine, na categoria Melhor Performance de Rock and Roll, mesmo a canção sendo um rhythm and blues.

Ike e Tina só foram pra cama, quatro anos desde que se conhecerem. Ele estava meio bêbado. Ela engravidou. Lorraine soube, pegou o revólver do marido para matar Tina Turner. Foi até o quarto em que ela dormia. Tina a desafiou, pedindo que atirasse. Lorraine não atirou na amante do marido. Atirou em si mesma. Não morreu. E Ike e Tina caíram na estrada. Começava a saga da dupla

Reagindo às constantes traições de Ike Turner, Tina recusou-se a acompanha-lo em mais uma turnê. Foi a primeira surra que levou do marido. “Às vezes, depois que me batia, eu acabava com pena dele. Eu ali, sentada, toda cheia de hematomas, e arranhões e com pena do cara. Lavagem cerebral? Talvez tenha sofrido lavagem cerebral”, confessou Tina numa entrevista à Rolling Stone, em 1984.

O Ike and Tina Turner Revue nunca chegou a jogar no time dos mais bem sucedidos grupos da época, certamente pelas confusões em que Ike se metia. Sua ficha na polícia é quilométrica, com poucas entradas por bater em mulheres, senão seria ainda mais longa. Em 1966, Phil Spector, um dos produtores mais importantes e inovadores dos anos 60, convidou Tina Turner para gravar um álbum. Ike não permitia que a mulher fizesse um disco solo. Spector concordou em colocar o nome dele na capa, contato que mantivesse distância do estúdio.

Phil Spector andava armado, e sacava a pistola por qualquer bobagem. Era sádico com os artistas que produzia. River Deep Mountain High (de Ellie Greenwich e Jerry Barry), canção que deu título ao disco, e foi a faixa de trabalho, exigiu de Tina Turner intermináveis sessões. No final, ela estava tão exaurida, e suada, que cantou só de calcinha. O álbum é considerado um dos mais importantes clássicos da década (o disco mais rock and roll da cantora). No entanto não emplacou nas paradas americanas, levando o produtor ao desespero, e a dar uma parada na carreira. Voltaria para produzir, em 1970, o álbum Let it Be, dos Beatles. Morreria na prisão, em 2020. Onde cumpria pena por assassinar uma mulher a tiros.

River Deep Mountain High nãp fez sucesso nos EUA, mas chegou ao terceiro lugar nas paradas britânicas. Quando ela precisou de ajuda, seu fãs ingleses deram-lhe a mão. Dois deles, David Bowie e Mick Jagger, este a conhecia desde que convidou Ike e Tina para abrir shows da turnê americana dos Rolling Stones em 1966. A dupla faria mais uma turnê com os Stones em 1969. Em 1975, ele cantou Acid Queen, no filme  da ópera rock Tommy do The Who (dirigido Ken Russel). No ano seguinte deixaria definitivamente Ike Turner, se esconderia dele na casa da atriz Ann Margarett, que também atuou em Tommy.

Foram oito anos de perrengue, com discos passando despercebidos, shows com qualquer cachê, e em qualquer espelunca, para pagar as contas, e débitos do imposto de renda (herança do ex). Aos 40 anos, considera-se Tina Turner uma “já era”. Aos 43 anos, foi salva pelo tecnopop. Em 1981, o pessoal do grupo inglês Heaven 17, pediu que participasse da gravação de um cover de Ball of Confusion, dos Temptations. O single foi um hit. Ela foi contratada pela Capitol. Voltou a gravar com o Heaven 17, Let’s Stay Together, de Al Green, que também foi para as paradas.

Sua carreira foi reformatada na Inglaterra. Private Dancer, que deu nome ao álbum com que decolou, é de Mark Knopfler, do Dire Straits, Jeff Beck toca numa faixa, a dupla de hitmakers Mike Chapam e Nick Chinn a presenteou com inéditas. David Bowie assina uma das faixas. A segunda fase de Tina Turner é responsável por, pelo menos, 90% do que vendeu de discos em carreira solo. Idem para o numero de prêmios Grammy. Nada de resiliência, de emponderamento feminino, nem de pautas afins. Deveu-se ao respeito e o reconhecimento do seu talento, pelos músicos aos quais influenciou, e o momento em que voltou.

Em 1982, a indústria fonográfica chegou ao auge. Foi o ano de Thriller, de Michael Jackson. Havia dinheiro sobrando para investir e arriscar. E Tina Turner correspondeu ao que acreditaram e investiram nela.  

Um comentário em “Tina Turner teve um relacionamento abusivo de 18 anos com Ike Turner, e virou superstar graças a participação num single da banda tecnopop Heaven 17

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  1. Eu conheci Tina Turner através da novela ”Cambalacho”,o personagem da Regina Casé era fanática pela cantora e se chamava Tina também.

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